Por Lika Rodrol
André Akkari é considerado o embaixador do pôquer no Brasil

Terra – Como aconteceu o primeiro contato com o pôquer e a que você atribui o fato de transformar esse jogo em profissão?

André Akkari – O pôquer surgiu na minha vida em 2005. Eu trabalhava em uma empresa de tecnologia, responsável pela área comercial, quando recebemos uma proposta para desenvolver um e-commerce para um site de pôquer. Fui o responsável por instalar o software e entender o site para poder gerar um orçamento.

Foi então, que tive o primeiro contato com as mesas, por curiosidade. Nesta época já rolavam os torneios da WSOP na ESPN. Comecei a assistir mais frequentemente, até que resolvi comprar meu primeiro livro na Amazon. Desde então não parei de estudar e melhorar meus conhecimentos até 2007, quando virei jogador profissional de pôquer.

Só tomei a decisão de virar profissional quando, mesmo nos horários de folga do meu trabalho normal, eu já tinha uma receita com o pôquer maior do que o salário da época, ou seja, todos os meses eu já vinha mantendo esta regularidade. E depois de uma longa conversa com a minha mulher, chegamos à conclusão que seria uma boa oportunidade. Ela sempre me apoiou muito em tudo que decidi fazer, e graças a Deus desta vez não foi diferente.

Terra – Quantas vezes joga por semana?
AA – Hoje em dia jogo menos do que jogava em 2008 e 2009, mantendo uma rotina de pelo menos três vezes por semana, em média sete horas por dia.
Terra – Você já consegue viver só de pôquer?
AA – Sim, desde 2007 sou jogador profissional de pôquer. Coloco isso nas fichas dos hoteis.
Terra – Você adota táticas diferentes quando está em uma mesa ao vivo ou jogando online?
AA – Teoricamente as táticas e estratégias são as mesmas, os conceitos técnicos se apresentam para o jogo da mesma forma, mas eles acabam tendo algumas peculiaridades diferentes em termos de elaborar informações sobre os oponentes, e dinâmica e velocidade de apostas e número de mesas.
Terra – Como analisa esse segmento no Brasil? Por que o interesse das pessoas por esse jogo cresceu tanto?
AA – O pôquer vem crescendo demais não somente no Brasil, mas praticamente no mundo inteiro. Tenho certeza que isso é derivado da dinâmica do jogo, da adrenalina que ele envolve e principalmente da quantidade de material para estudo e treinamento relacionado ao pôquer, que hoje se apresenta em sua maioria na internet. O aumento do número de domicílios em todo o mundo que têm acesso a internet também é fonte poderosa de divulgação do pôquer online.
Terra – Que dicas passaria para quem está começando no esporte?
AA – Estudo, estudo e estudo. O pôquer é um jogo que em um primeiro momento você imagina que a sorte faz diferença. Depois que você acompanha a rotina de um profissional, percebe seus resultados e vê seus entendimentos sobre os conceitos estratégicos do jogo. Você observa que a sorte não faz nenhuma diferença no médio e longo prazo, portanto, estudar é a chave do sucesso para o mundo do pôquer.
Terra – Quais as características de um bom jogador?
AA – Um bom jogador precisa em resumo ser um grande conhecedor do ser humano, de suas atitudes, de suas tendências, de como cada um lida com a palavra INFORMAÇÃO. Ela é a alma do jogo, saber interpretá-la e usá-la em seu benefício é o grande patrimônio de um grande jogador.
Terra – Quais livros aconselha para quem quer se aprofundar mais no pôquer? Há algum filme que você acha interessante e que tenha relação com o jogo?
AA – Os livros hoje em dia estão um pouco ultrapassados no mundo do pôquer, os livros técnicos eu digo. Eles perderam muito espaço para as escolas de pôquer, como a TV Poker Pro.com, escola que eu montei com o Alexandre Gomes e Gualter Salles. Lá, narramos mão a mão um torneio de 12 horas de duração, dizendo tudo o que pensamos em cada momento do torneio e o porquê de agimos daquela forma. Isso é uma fonte de aprendizado incomparável. Quanto aos filmes, o melhor e o que me deu mais adrenalina no começo da carreira foi o Rounders, com Matt Damon, a melhor história de um jogador de pôquer já relatada no cinema!
Terra – O que dizer para quem está indo pela primeira vez para Vegas jogar em cassinos?
AA – Se você vai para Las Vegas para jogar pôquer, prepare-se, estude, e sempre participe de torneios que se encaixem no seu bolso. O conselho sempre é jogar em torneios em que você tenha de caixa no mínimo 50 vezes o valor da entrada, ou seja, se você está indo para lá com US$100 para investir no pôquer, jogue torneios de US$2 dólares. Se você estiver estudando e preparado, este universo de 50 jogos é o suficiente para você fazer sua habilidade sobressair.
Terra – Sei que você dá várias palestras e consultoria. O que podemos aplicar dos ensinamentos do pôquer para crescermos profissionalmente?
AA – O pôquer é um jogo da vida, de conhecimento do ser humano, em que você entende o funcionamento e o padrão que as pessoas adotam nas diversas situações. Você usa isso em seu benefício no futuro, assim como o mundo dos negócios. Entender o funcionamento do ser humano em uma venda, por exemplo, é essencial para o sucesso da mesma. Falar exatamente o que o seu cliente quer ouvir. Não mentir, mas transmitir as informações para que elas atinjam diretamente o centro nervoso do ser que as ouve, tendo um impacto muito maior no resultado em curto prazo. Isso é o pôquer, e isso é a vida empresarial.
Terra – Após milhares de mãos jogadas, já teve o prazer de sair com um Royal Straight Flush ( em caso positivo, quantas vezes)?
AA – Sim, fiz quatro vezes em toda a minha carreira, mas tenho certeza que muitos ainda virão!
Terra – Tem alguma superstição antes de entrar na mesa ou algum amuleto?
AA – Não, nenhuma, sou uma pessoa que acredita que o bem gera o bem. Energia positiva gera sempre coisa boa. Portanto, tento viver assim, me aproximar de pessoas do bem, dar risada o dia todo, usar o bom humor como uma tática de levar a vida. Tudo assim fica mais fácil, até as cartas correspondem!