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Semana passada o leitor conheceu Péricles Pereira Pinto, o dono da corujinha mágica. A crônica desta semana é quase uma extensão da anterior. Seu protagonista, um jogador alcunhado de “Santa”, por parecer-se com o “Bom-Velhinho”. Engana-se aquele que permitiu que sua mente fosse invadida pela ideia de que Santa seja um fish, de que doa fichas a seus adversários, ou de que seja deveras cauteloso. Santa é um bom jogador, agressivo, loose, daqueles que exploram a fraqueza de seus oponentes. Verdade que não tem muito amor às fichas. Mas tudo parte de seu jogo, de sua estratégia.

Conhecido de todos que frequentam os maiores torneios do país, Santa é sempre visto nas etapas do CPH, do SPF, do IPF e do BSOP. Atirou também nos do exterior, como alguns EPTs e LAPTs. Em nenhum pegou FT. E isso o entristece.

Sendo um pouco supersticioso, não mais que o nosso caro Péricles, já fez oferenda a Zeus, a Baco e até a Afrodite. Orou por Cristo, clamou por Maria, fez promessa, cumpriu promessa. Protestou contra toda essa crendice; recebeu o Preto-Velho, virou Exu, mas nada. Seu jogo, embora bom, não lhe traz qualquer significativo resultado.

Desesperado, com o raciocínio comprometido, lembra-se de sua infância, quando, numa noite, estando a dormir, sua mãe o acordou para ver o Papai-Noel, que ouvira seus passos na sala. Chegando lá, vira seu pai à janela, olhando para o céu: o Bom-Velhinho havia partido. Mas deixara os presentes. Tentou ainda divisa-lo no céu, estrelado naquela noite, enxergar suas renas, seu trenó. Mas era tarde.

Debruça-se, então, sobre sua escrivaninha e põe-se a escrever uma carta ao Papai-Noel. Abaixo transcrevo o que Santa escreveu.

Querido Papai-Noel,

 o senhor não deve se lembrar de mim: faz muito tempo que não lhe escrevo e o senhor já é muito avançando em idade. Pode ser que, por toda essa ausência, o senhor não considere o meu pedido. Um erro, na minha opinião. Vou lhe dizer por quê.

Durante todos esses anos, sempre fui honesto: nunca roubei, nunca matei, nunca traí amigo nem mulher; sempre fui justo; sempre amigo. Cuidei de pai, cuidei de mãe. Amei mulher e filhos. Até minha sogra.

Pus dinheiro em casa do modo que pude. Às vezes um aperto aqui, outro acolá, mas sempre com o coração nas minhas ações, nas minhas ledices, nos meus desgostos. Aposentei-me como professor. Hoje jogo pôquer. Apesar das várias tentativas, nunca conquistei nenhum bracelete do Brasilian Series of Poker (o BSOP [o senhor não conhece, não tem pôquer aí no Pólo Norte, não é?, mas é o mais importante torneio da América Latina]). E quero muito um.

Meu pedido: dê-me um bracelete do BSOP este ano, meu bom velhinho, unzinho só. Em troca, prometo: nunca mais darei bad em ninguém.

 Do seu,

Francisco Fagundes Filho