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A seguir, serão apresentados estudos e perícias técnicas que comprovaram que o jogo das cinco cartas não depende, exclusivamente ou principalmente, da sorte para a definição do seu resultado. O que o descaracteriza como jogo de azar e prova que sua prática é legal.

  Destacarei aqui os mais importantes laudos, pareceres e estudos, que foram as principais ferramentas utilizadas pela Confederação Brasileira de Texas Hold’em na luta pelo reconhecimento da atividade como lícita e legítima.

  O primeiro estudo obtido pela Confederação veio de Israel, de um dos mais respeitados centros de pesquisa e investigação avançada da comunidade científica internacional – a Universidade de Tel Aviv. Elaborado pelo Ph.D. em Matemática e Ciência da Computação, o Professor Noga Alon, o estudo18 possui 17 páginas com uma infinidade de cálculos, probabilidades e possibilidades. Em sua abordagem, o estudo da universidade tem a intenção de avaliar a importância da habilidade no jogo de Poker.

  Entre os aspectos destacados estão a importância da variação da estratégia utilizada pelo jogador e a habilidade como elementos fundamentais para se alcançar a vitória. Em um tópico chamado “O Efeito do Teorema do Limite Central”, Noga afirma que os jogadores mais experientes possuem uma vantagem significativa sobre os inexperientes; essa vantagem se sobressai cada vez mais, à medida que o número de mãos jogadas aumenta. Ele afirma ainda que intuitivamente isso é óbvio, visto que, a longo prazo, as cartas distribuídas a todos os jogadores são semelhantes, na média. Ao fim de seu estudo o professor Noga conclui:

“(…) Analisando-se modalidades simplificadas de pôquer, vimos que, embora como essencialmente em quase todos os jogos, haja alguma influência do azar, o pôquer é predominantementeum jogo de habilidade. (…)”

“ (…)O Teorema do Limite Central discutido no Item 5, implica que a importância da habilidade aumenta dramaticamente, à medida que aumenta o número de mãos jogadas. Como normalmente o número de mãos é grande, esse fato implica que o resultado final de uma longa sequência de mãos é determinado quase com certeza pela habilidade dos jogadores.(…)”

  Além disso, Noga Alon chama a atenção para a existência dos fatores “sorte e azar” em todos os fenômenos de nossas vidas. Segundo ele:

“Em quase todo jogo existente, há um elemento de habilidade e um elemento de sorte ou azar. Para dizer a verdade, os princípios da Física estatística e da Mecânica Quântica implicam que alguma influência do azar aparece em essencialmente todos os fenômenos das nossas vidas, não apenas nos jogos. Apesar do elemento inerente do azar no pôquer, nossas análises dos modelos simplificados sugerem que o resultado de um jogo de futebol, e provavelmente até mesmo de uma partida de tênis, é mais influenciado pelo azar do que os resultados de um pôquer jogado durante uma longa sequência de mãos. O principal motivo para algumas pessoas não concordarem com isso é psicológico – há uma tendência de associar o acaso com cartas mais do que com o tempo, o vento ou protuberâncias em uma quadra, mesmo quando esses últimos têm uma influência maior no resultado final.”

Nogan finaliza seu estudo dizendo:

“(…)A prática e o estudo realmente ajudam a melhorar no pôquer,e, embora a sorte possa desempenhar um papel essencial em uma única mão, acreditamos que a habilidade é, de longe, o principal componente para decidir os resultados de uma longa sequência de mãos. Como a prática comum é jogar várias mãos,isso confirma solidamente a conclusão de que a habilidade é muito mais dominante do que a sorte, e de que o pôquer é predominantemente um jogo de habilidade.(…)”

  Algum tempo após obter o laudo da Universidade de Tel Aviv, a CBTH conseguiu o primeiro laudo produzido no País sobre o assunto. Em 26 páginas, um dos mais conhecidos laboratórios de perícia do Brasil, chefiado pelo ex-professor da Unicamp, Ricardo Molina, analisou: “o jogo de cartas conhecido com Texas Hold’em, de modo a verificar se este pode ser classificado como jogo “de azar” ou se depende também de habilidade, e, se positivo, em que medida e de que tipo de habilidade(s).” As conclusões do laudo19 elaborado pelo ex-professor da Unicamp não diferem do resultado do laudo realizado pela universidade. Além de constatar que a habilidade é fator determinante para o sucesso no longo prazo em um jogo de poker, ele frisa que quanto mais longa for a sequência de partidas disputadas, o fator habilidade será mais efetivo:

“Tem-se portanto que o lucro esperado varia exclusivamente de acordo com o valor do jogo e a habilidade do jogador. Ou seja, no jogo de pôquer, a habilidade será o principal fator de sucesso a longo prazo.”

“É importante observar que, neste modelo, à medida que o número de partidas aumenta, maior será a probabilidade do lucro real se igualar ao lucro esperado, uma vez que o desvio padrão de proporções é uma função do número de observações.”

Molina procura também definir o que é a habilidade em um jogo de poker:

“Na seção II.3 fizemos um breve estudo das probabilidades em diferentes fases do jogo, em função das cartas até então recebidas. Ora, o mero conhecimento destas probabilidades em cada instante do jogo já é um fator de vantagem para o jogador. Assim, a primeira e mais fundamental habilidade exigida para um bom jogador de Texas Hold’em é o domínio matemático das probabilidades; ele deve ter a expectativa segura de suas chances reais.”

“(…) O pôquer, em qualquer de suas modalidades, é, antes de tudo, um jogo que exige uma constante avaliação dos oponentes, suas reações, seu padrão de comportamento em diferentes situações, o grau de ousadia com o qual o oponente aposta, etc. Já disse que tudo o que o bom jogador de Texas Hold’em deve fazer é:

“…entrar nas cabeças de seus oponentes, analisar como eles pensam, imaginar o que eles pensam que você pensa e até descobrir o que eles pensam que você pensa que eles pensam”

“Em outras palavras, o pôquer é um jogo no qual, para ser vitorioso, é preciso, para além da capacidade de efetuar rápidos cálculos matemáticos, conseguir “ler” as intenções ocultas do adversário, e ao

  Em seu laudo, o ex-professor da Unicamp ressalta a importância do blefe e traz também um dado interessante, que mais tarde seria comprovado por outro estudo, feito pela Cigital Inc. Em uma análise de um torneio sit-and–go de oito pessoas, extraído do site absolutepoker.com, das 118 mãos jogadas, 75 terminaram em fold, ou seja,em 64% das vitórias o ganhador não mostrou suas cartas!

“Dificilmente poderíamos classificar um jogo que permite tal desdobramento como ‘de azar’, visto que, na maior parte dos casos sequer se sabe se o ganhador tinha efetivamente o melhor jogo”,

conclui Molina, que finaliza seu laudo fazendo uma discussão à luz da legislação brasileira sobre a prática do poker:

“Com efeito, como demonstramos matematicamente na seção II.4, se um dos jogadores tem maior habilidade do que outro (independentemente de quanto mais habilidoso ele seja, ou qual habilidade ele tenha desenvolvido), necessariamente este jogador (o mais habilidoso), obterá mais ganhos ao fim de uma sequência de partidas (e tanto maior será o ganho quanto maior o número de partidas).”

“Considerando que o Texas Hold’em, assim como outras modalidades de pôquer, sempre são jogados em longas séries de partidas, podemos afirmar, com segurança, que a habilidade é decisiva para definir o vencedor.”

“(…)Assim, voltemos ao texto do decreto Lei 3688/41. Fala-se ali de “jogo de azar” como sendo aquele em que “o ganho e a perda dependam exclusivamente ou principalmente da sorte”. Com certeza, podemos afirmar que no Texas Hold’em não depende “exclusivamente” da sorte. Quanto ao termo “principal(mente)”, a definição que mais se aplica à discussão, segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, é a entrada 5, ou seja, “de maior relevância, decisivo”. Como vimos, e demonstramos, inclusive matematicamente, a habilidade é decisiva para o ganho no Texas Hold’em.  De acordo, pois, com a definição dada no texto do Decreto Lei3388/41 ou, por qualquer outro critério no qual o nível de habilidade do jogador é decisivo para o ganho, a modalidade de pôquer conhecida como Texas Hold’em não pode ser considerada jogo de azar.”

Semana que vem mais um artigo.

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