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Guilherme Moura teve síndrome do pânico depois da morte de um amigo; ao se isolar, o sorocabano aderiu ao jogo e já ganhou mais de US$ 900 mil

Já imaginou largar seu emprego no escritório para jogar baralho e fazer milhares de dólares? No caso do sorocabano Guilherme Moura, foi exatamente isso o que aconteceu. Após sofrer um trauma e desenvolver síndrome do pânico, ele procurou um hobby para ocupar a mente e acabou trocando o terno e a gravata pela tela de seu computador, onde já fez mais de US$ 900 mil com o pôquer online.

A história deste morador de Sorocaba (SP) no esporte começa em outubro de 2003, de uma forma trágica. Prestes a se formar na faculdade de direito, Guilherme perdeu um amigo que morreu em um acidente automobilístico. A partir daí, começou a ter problemas para fazer as atividades do cotidiano.

– Um mês depois do acidente, eu estava voltando da faculdade e me senti estranho, parecia que o coração ia saltar do peito. Cheguei em casa e fui para o médico. Fiz vários exames, mas não deu nada. Eu não conseguia mais frequentar a faculdade e muito menos pensar em me formar – contou.

Após muito esforço, Moura conseguiu concluir seu curso de direito, mas os resquícios do luto pelo amigo ainda afetavam sua vida.

– Depois que me formei, fiquei três meses sem sair de casa. Toda vez que saía para algum lugar, ia parar no hospital. Diversas vezes meus irmãos me socorreram de madrugada – acrescentou.

Foi então que Guilherme procurou ajuda especializada. Ao se consultar com um psiquiatra, ele foi diagnosticado com síndrome do pânico. Essa condição faz com que a pessoa tenha um forte medo ou sentimento de que coisas ruins vão acontecer. A consequência, geralmente, é o isolamento e o medo de sair de casa.

E foi com o pôquer, jogo que Moura aprendeu com seu tio aos 6 anos de idade, aliado ao tratamento psicológico e psquiátrico, que o sorocabano começou a superar seus medos e a mudar de vida.

– Depois que fiquei doente, descobri o pôquer online e comecei a jogar o Texas Holde’m (modalidade do esporte). O pôquer fazia eu me concentrar e esquecer dos pensamentos ruins. Além disso, começou a ser uma boa fonte de renda para mim – explicou.

A partir daí, o novato jogador de pôquer decidiu se profissionalizar no esporte. O escritório de advocacia com o amigo ficou de lado e, a partir de então, Guilherme passaria boa parte de seus dias em frente ao computador – e recebendo em dólar.

– Eu tinha comprado um crédito de US$ 30 em um site de pôquer. Em dois meses, jogando todos os dias, eu fiz US$ 900. Fiquei abismado. Depois eu joguei um torneio com um amigo e faturei US$ 6 mil. Daí em diante eu já sabia o que eu queria. Fui buscar cada vez mais torneios para jogar – relatou.

E é com este “salário” do pôquer, que varia de R$ 5 mil a R$ 13 mil, que Guilherme sustenta sua mulher e seu filho hoje em dia.

– Eu sustento a minha família com o dinheiro do pôquer. Meu salário varia muito, mas a média, enquanto eu jogava para um grupo, era de mais ou menos uns R$ 5 mil, fora o dinheiro das aulas que eu dou. Se eu jogasse por conta própria eu teria um lucro bem maior, algo em torno de R$ 13 mil – disse.

Para o futuro, Guilherme espera que o esporte se torne algo mais profissional no Brasil e tenha uma nova regulamentação.

– Antigamente tudo era amador. Hoje caminhamos para a profissionalização desse esporte. Qualquer pessoa pode buscar conhecimento. Assim como em qualquer profissão, se você ficar esperando a sorte, não vai acontecer. Se você quer ganhar dinheiro jogando pôquer é simples: estude e trabalhe muito – ensina.

Concentração e sorte

Segundo Moura, engana-se quem pensa ser fácil sustentar a família com dinheiro do pôquer. Não é simplesmente ficar sentado na frente do computador: a atividade exige disciplina, concentração e horas de jogo. O sorocabano faz em média de 20 a 30 torneios simultâneos por dia. E destaca o “cansaço físico e mental” causado pelo jogo.

– Eu começo jogando às 14h e faço de 20 a 30 torneios. Depende de como estou me saindo no dia ou se estou com a cabeça boa. Nada pode tirar sua concentração. Um telefone que você atende na hora errada pode custar a vitória em um torneio – explicou.

Guilherme destaca que o pôquer envolve, sim, conceitos de sorte e azar, porém, somente no curto prazo. O que vale mesmo, segundo ele, é a “leitura” do adversário.

– O pôquer é um jogo de mente. É necessário “ler” os adversários. Você analisa o jogador pelo valor das apostas ou pelo tempo que ele leva para fazer uma determinada jogada, entre outros fatores. A sorte tem influência, mas no curto prazo. Se você disputar com um par de ases contra um par de reis, o seu adversário tem 20% de chances de achar outro rei, porém, no longo prazo, o seu par de ases vai ser o vencedor em 80% das vezes – explicou.

Preconceito

Segundo Guilherme, na época em que começou no pôquer o preconceito com o esporte era bem maior que atualmente. Hoje em dia, atletas famosos e celebridades aderiram ao esporte, como o nadador norte-americano Michael Phelpes e o ex-jogador Ronaldo Fenômeno. No início, a própria família de Guilherme não aceitou bem a sua nova “profissão”.

– Tinha muito preconceito mesmo. Hoje você vê garotos largando faculdades no início para se dedicar ao pôquer. Naquela época era impossível isso. Minha mãe tinha vergonha de falar o que eu fazia. Todo dia ouvia discursos dela de que meu avô perdeu fazendas no baralho. Porém, eu estava decidido que era aquilo que eu iria fazer e não ia desistir. Naquela época, falar em síndrome do pânico era coisa de louco e jogador de pôquer era traficante (risos) – contou.