Acho o João Mathias um monstro do poker. Já pedi ao Kalil pra ele fazer uma entrevista pro pokercast com ele, mas enquanto não sai, fiquem com esta aqui que o superpoker fez.

Um dos maiores nomes do poker online brasileiro.

SuperPoker: O que fazia antes de ser um profissional do poker? E por que decidiu seguir essa carreira?
João Mathias: Estudei por dois anos e meio de ciência da computação na UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Não gostava do curso e da falta de competição de uma faculdade. Sempre foi um problema pensar que depois de passar por cinco anos de um curso difícil e longo, sairia ganhando em torno de R$1500/mês.

Precisava entrar no mecado rápido e com maiores perspectivas. Então montei um negócio que conectava linhas de telefone em provedores de internet discada que remuneram o usuário. Conectar apenas em horários de pulso único gerava uma conta de telefone mínima e era menor do que o produzido pelo provedor(cresce.net, orolix).

Com as 40 linhas que pedi já estava tirando uma boa grana. Parece meio irreal, mas funcionou. Ainda associei a este negócio uma importação e revenda de equipamentos para outras pessoas que gostariam de começar no negócio das linhas. Estava bem contente e seguro e seis meses depois decidi largar a faculdade.

Então há uns 3 anos, mais ou menos no período que larguei a faculdade (porém a razão não foi o poker), assisti poker na ESPN e vi a grana envolvida. Na hora eu estabeleci como meta que se neste jogo é possível ficar bom e ganhar, eu iria fazer isso. Poker pra mim era jogo, diversão e grana. Foi por isso que escolhi me dedicar somente a isso depois de algum tempo.

SuperPoker: Você começou no poker há cerca de três anos e já é um dos maiores jogadores de poker online do país. Qual é o segredo para uma ascensão tão rápida?

João Mathias: No meu caso, acho que tudo o que fiz depois de me formar no segundo grau, ajudou minha carreira no poker. Após completar o ensino médio, fui trabalhar, estudar e aproveitar Londres. Passei dez meses lá e com isso já dominava o inglês, que é um aspecto que ajuda muito nesse meio. Depois fiz ciência da computação e aprendi muito de matemática e principalmente lógica.

Foi uma grande ajuda. Ter trabalhado por um tempo no ramo das linhas de telefone me fez aprender a cuidar do lado financeiro, pois tratava-se de um negócio totalmente capitalista. Mas ainda considero que o principal foi que eu sempre fui viciado em jogos.

Joguei muito, muito mesmo, Age of Empires, Counter Strike, Chess, Fifa, Pro Evolution, futebol de verdade, basquete. Sempre tentei melhorar nesses jogos, buscando as técnicas certas. Muito pilhado. Isso me ajudou a ter o pensamento certo quando cheguei no poker, sempre mais preocupado com decisões que resultados.

SuperPoker: De todas as qualidades e características que um jogador deve possuir para ser um vencedor, qual acha mais importante?

João Mathias: Fica bem fácil ganhar dinheiro no poker se existe um controle de bankroll apropriado. Acho que esta é característica básica, a que mais transforma perdedores em vencedores, mesmo que por pouca margem. Porém há muitos outros aspectos que precisam ser trabalhados em seu jogo para se tornar um grande vencedor. Ter essa consciência é a sacada se quiser ser um top player.
SuperPoker: Você está atualmente em segundo lugar no Ranking Brasileiro. Além de você, quais são os jogadores que você acredita terem mais chances de terminar o ano em primeiro lugar? Se fosse apostar, quem seria seu escolhido?
João Mathias: Acho que o favorito é o Mestre Urubu (Beto Caju), que construiu uma boa vantagem sobre os demais. O Caio Pessagno parece ter bastante volume e pode chegar. Não sei quanto volume Caio Pimenta vai colocar até o final do ano, mas se ele estiver disposto a puxar esse título eu não apostaria contra ele.

Eu tenho planos de me focar mais no poker ao vivo e de curtir a vida um pouco mais e acredito não estar nessa disputa. Não sou muito de rankings por volume e prefiro dar mais importância a estatíscas como ROI, por exemplo. Mas desde que estou no ranking do SuperPoker não fico um dia sem olhar. :)

SuperPoker: Quais foram seus objetivos como jogador para 2010? E como estão seus resultados em relação a eles, agora que já estamos na metade do ano?

João Mathias: No começo do ano escrevi um post sobre meus objetivos e vou citar agora o que estabeleci como meta.- ter um resultado de seis dígitos
– fazer uma mesa final de um evento live
– ser top 50 do mundo no pocketfives
– estudar mais
– jogar menos e ter uma vida mais equilibrada
– começar a buscar um patrocínio para poder engatar no circuito live internacional

Ainda não tenho muitos desses objetivos cumpridos. Não tenho o resultado de seis dígitos e nem uma mesa final de um bom evento live. Atualmente estou na 61ª posição no ranking mundial do Pocket Fives e já fico feliz com isso. Acho que coloquei bastante ênfase nos estudos no primeiro semetre do ano, que é uma coisa que sempre faço quando não estou jogando bem ou tendo resultados no meu trabalho.

Às vezes fico sem saber o que estudar sobre NL Holdem, por isso decidi me dedicar a outras modalidades e estou satisfeito com minha evolução em Omaha, Omaha Hi-Lo, Razz e Stud. Jogar menos é EV+. Aproveitar o dinheiro e investir em qualidade de vida é EV+. Estou fazendo isso, só preciso conseguir conciliar um pouco mais de exercícios na minha agenda. Assinar com a Poker Icons foi o passo que dei até agora em direção a um patrocínio.

Meu ano não está sendo totalmente como eu planejei, mas ainda há tempo e espero uma grande conquista até o final do ano.
SuperPoker: Conte para a gente como foi o processo que culminou com sua inclusão no quadro de profissionais da Poker Icons, a maior agência de jogadores do mundo.
João Mathias: O processo foi que o Tio Max, da Federação Gaúcha, estava em contato com o agente da américa da latina da Poker Icons. Eles se interessaram pelo meu perfil e me propuseram o contrato. Aceitei.

SuperPoker:E quanto aos seus planos e objetivos daqui em diante? Quais são eles?

João Mathias: Além dos objetivos estabelecidos pra 2010, o plano atual é uma viagem de três meses pela Europa, acompanhando os EPTs e outros torneios, com meu grandes parceiros e craques Bedias e Guinor (já decidiu se vai engatar Prates? :) . Pretendemos ir no final de agosto e é aqui que começamos a traçar um caminho mais sério em direção a um grande resultado internacional.

SuperPoker: Seus dois maiores resultados no poker online até hoje foram a vitória na 1K Monday do Full Tilt Poker e o 4º lugar no Sunday Million do PokerStars, ambas obtidas em 2009. Qual desses dois resultados foi mais significativo para você? Por que?

João Mathias: Sempre que chegamos uma FT e não vencemos, fica faltando algo. Considero a vitória no 1K Monday como meu maior feito até hoje, já que foi em uma época em que já estava exigindo de mim um grande resultado. O quarto lugar no Sunday Million também é muito especial, pois é um sunday major e foi no dia do meu aniversário.

SuperPoker: Como você comentou em seu blog sobre as diferenças entre a antiga e a nova geração de jogadores de poker, vamos fazer a mesma pergunta que fizemos na entrevista a Bruno GT: Qual seriam as características dessa “Old School”, em comparação com a tendência mais recente dos jogadores de MTTs online? No Brasil, quem seriam pra você exemplos de representantes dessas duas escolas distintas?

João Mathias: Realmente escrevi sobre o que considero ser o diferencial entre os novos jogadores e a old school. A motivação que temos ao jogar poker é o jogo em si. O pensamento está em tomar boas decisões e sempre tentar evoluir. O background dessa geração foram os games e a competição que encontramos em quase todos os aspectos de nossa vida. O dinheiro, os buy-ins, a premiação, já não importa tanto pra esse tipo de perfil. Não posso afirmar com certeza, pois não estou nesse ramo há muito tempo, mas acho que o que aproximou os jogadores mais antigos do poker foi o grana, a aposta, aquela adrenalina liberada quando se joga por dinheiro.

Há um post que retrata muito bem uma diferença entres esses jogadores. É uma discussão criada por Barry Greenstein (old school) sobre a melhor linha a ser tomada em situação de small blind contra big blind, onde o SB tem K8o e os stacks efetivos são 20bbs.Greenstein defende que o melhor seria o standard open-raise e fold em caso de de um 3-bet. Há opiniões de várias feras do online, inclusive de “djk123” – o pai dos big open shoves – que defendiam e provaram que o open shove seria a linha ótima. Considero essa uma das maiores diferenças nos estilos de jogo dessas duas escolas. Os jogadores modernos desprezam a vida no torneio, enquanto os mais clássicos têm uma atitude mais conservadora sobre isso. O pensamento correto quando abrimos 12 torneios não é chegar em seis mesas finais e sim que em um deles queremos nos colocar em uma situação confortável numa reta final, onde poderemos buscar um dos primeiros lugares.

SuperPoker: Qual o peso que a teoria (estudo) e prática têm para você, como profissional de poker?

João Mathias: O peso que o estudo tem no seu jogo é dependente de que nível vc se encontra. Para um jogador iniciante ler qualquer livro ou assistir um vídeo de qualquer jogador descente terá um grande impacto em seu jogo. Para jogadores avançados pouco material vai trazer muito benefício e então é preciso buscar novos meios de continuar evoluindo. No caso do NL Holdem, não há muitos livros que posso ler e aprender muita coisa e já não são todos os vídeos que consigo assistir. Por isso os estudos já não pesam tanto.
A prática no poker é essencial. Só mesmo com muitas mãos jogadas é possível desenvolver um feeling confiável de como o jogo funciona.

SuperPoker: Conte para a gente como costuma ser um dia de trabalho para você. O que faz antes de começar a jogar? E quando está jogando (ambiente, número de mesas, seleção de jogos, etc)?

João Mathias: Organizo meus dias de forma variada. As vezes, não organizo, mas funciona também. Depende muito do que tenho pra fazer extra poker. Se quero pra ir pra balada, começo a me registrar as 14h e paro pelas 17h. Se quero aproveitar a tarde para serviços de banco, exercícios, família, etc, costumo começar as 20h. Os melhores períodos de torneios nos dias de semana são das 16h até 18h e das 20h até 22h. Sempre tento pegar no mínimo uma dessas janelas por dia.Um cenário ideal para começar a sessão seria ter feito exercícios pouco antes da sessão, estar com o ambiente organizado, estar limpo, alimentado e descansado. Mas confesso que várias vezes não cumpro nenhum desses pré-requisitos.
Na parte mais funcional, gosto de jogar 12 mesas no máximo. Jogo todos os torneios oferecidos, com exceção do 100+R noturno do PS. Nesse torneio eu vejo como está o field e várias vezes opto por não jogar. Pra mim, é o torneio regular mais difícil da semana. Em fases ruins as coisas mudam e posso facilmente tirar vários torneios caros da minha agenda, até buscar confiança de novo. Uso o Holdem Manager. Jogo no Full Tilt Poker (“joaoMATHIAS”), PokerStars e Party Poker (“TDurdenWar”).

SuperPoker: Você joga predominantemente MTTs de buy-ins elevados e fields grandes. Qual a sua estratégia básica nesses torneios?

João Mathias: Não entro com uma estratégia básica em nenhuma mesa. O pensamento básico é tomar boas decisões e isso vai ser influenciado por oponentes, stacks, table condition, momento do torneios, enfim, por várias coisas. É claro que um 100+R semanal é jogado de forma bem diferente que um Sunday Million, mas não chega a valer a pena seguir um plano antes de sentir a mesa.

SuperPoker: Qual foi a coisa mais importante que o poker te proporcionou? E o que ele traz de negativo para você?

João Mathias: O pior lado de ser jogador de MTTs é que a fase que se encontra influencia demais seu humor. Se está rodando bem existe mais motivação e mais atitudes positivas em sua vida. Quando se roda mal, vai faltar paciência, bom humor, alegria em geral. Torneios multi-table oferecem o pior disso. A variância é bem brutal. Há mais períodos negativos que positivos e isso é estressante as vezes.
O melhor do poker é a grana. Sem dúvidas.

SuperPoker: Além do poker, quais são seus outros interesses na vida?João Mathias: Sou de fases, mudo de hobbies com certa freqüência. No momento estou pelos filmes, músicas, noite, futebol, viagens, amigos, família. Tenho começado com bolsa de valores, por que combina muito com poker.

SuperPoker: Para terminar: se pudesse escolher, seria um profissional do futebol ou do poker? Por quê?

João Mathias: Eu realmente teria gostado de ser jogador de futebol, mas esse ramo é bem mais complicado. Não tive a oportunidade de treinar sério durante o período de escola e sem essa base já ficava complicado ingressar em qualquer time. Eu prefiro ser jogador de poker. Gosto do fato de ser um esporte individual e somente tu pode ser culpado pelos erros. Gosto também do fato de o poker poder ser praticado por toda a vida.
Para jogadores, poker envolve bem menos sorte que futebol. Jogadores de futebol as vezes passam suas carreiras inteiras e não conseguem despontar, talvez por lesão, talvez por que seus times não fecharam, etc. Não é algo matemático. Há muitas zebras. Poucos conseguem realmente ganhar dinheiro. No poker, principalmente no online, a amostragem é enorme e se vc é um bom jogador vai ganhar bem. Aliás, não trocaria poker por nenhuma outra profissão.

Fonte: www.superpoker.com.br