Campeão brasileiro do BSOP – Etapa de Belo Horizonte, ganhando quase R$ 100.000; profit online de mais de 60.000 dólares. Com esses resultados, muitos já teriam largado tudo para poder se dedicar exclusivamente ao Poker. Entretanto, este sereno jogador mantém o foco, investe, trabalha duro e mantém o Poker como um hobby bastante lucrativo.

O Quero Ser Shark conversou com Filipe BDM, dono desse currículo, e vocês conferem agora um pouco mais da vida desse diferenciado jogador.

QueroSerShark: Olá Filipe, obrigado por ceder um pouco do seu tempo para bater uma papo com a gente:
FilipeBDM: Olá Tiquinho! É um prazer estar falando com o QSS, sem dúvida um dos melhores do Brasil.

QSS: Conte-nos como você conheceu o Poker e como foi seu início no esporte.
BDM: Eu comecei no Poker há cerca de 4 anos, através dos meus cunhados (Guilherme e Adnré Sá).
Na época eles já eram ótimos jogadores, e seus resultados me fizeram interessar bastante pelo jogo.
Daí comecei a jogar o Shasta no Everest Poker (pequenos torneios gratuitos ‘freerolls’, que davam alguns centavos para os vencedores começarem a jogar por dinheiro real).

Um história engraçada é que um dos meus cunhados pegava carona comigo, e ao invés dele me pagar a carona, eu pedia para ele me enviar 10 dólares para poder jogar. Fiz esse processo algumas vezes: pegava 10$ quebrava, pegava 10$, quebrava… Até que na quarta ou quinta vez eu comecei a ganhar, fui pra uns 50$, já estava estudando o jogo, acompanhando eles, e com esse pequeno BR eu passei a jogar os SNGs de 45 pessoas no Poker Stars.

Com 50$ eu consegui subir para 1k em 2 semanas e nunca mais zerei desde então. Nunca fiz um depósito no poker e foi a partir daí que comecei minha carreira.

QSS: E quais métodos você utilizou para estudar o jogo?
BDM: Como nessa época meu cunhado havia acabado de cravar o FTOPS, ganhando mais de $100.000, eu fiquei muito curioso e interessado no jogo e passei a estudar.
Peguei alguns livros emprestados, o que mais curti foi o do Dan Harrington. Eu também acompanha os tops do momento, que na época eram Caio Pimenta, Bruno GT e Mestre Felipe, no entanto, eu desenvolvi meu jogo mesmo colando nos meus cunhados, que me explicavam suas jogadas, seus raciocínios, enfim coachs de nível altíssimo.

QSS: Mesmo com ótimos resultados online e live, o Poker não é a sua atividade principal. Com esses bons resultados você já pensou alguma vez em se dedicar exclusivamente ao Poker?
BDM: Na verdade não, e eu sempre fui muito cuidadoso com isso. Hoje meu foco principal está nas minhas duas óticas, além de uma distribuidora que estou montando. O Poker fica em segundo ou terceiro plano.
Para mim, o grande problema do Poker é a sua variância e seu desgaste psicológico. Quem sustenta uma casa com o jogo acaba se deixando afetar por maus resultados, que são normais na carreria de qualquer jogador. Afinal, quem nunca enfrentou uma longa variância, certamente irá enfrentar.

Portanto, ter uma outra atividade que me dá uma renda e me possibilita sustentar minha casa, me dá conforto para jogar Poker sem nenhuma preocupação financeira, e acho que isso me ajuda a alcançar os bons resultados.
O dinheiro do Poker para mim é uma renda extra, nunca a principal.

QSS: Mas você mantem uma rotina de Poker, uma grade de grind, mesmo que pequena?
BDM: Com a abertura dessa terceira empresa, eu tenho ficado por conta disso, e não tem sobrado tempo para nada. Como eu jogo só torneios, e estes demoram muito tempo, acaba que não tenho tido como jogar, mas sempre que rola uma folguinha eu engato pra me divertir e quem sabe ganhar alguma coisa.

* A Ótica Prisma fica na Rua Grão Pará, 715. Santa Efigênia, 30150-340 Belo Horizonte, Tel: 31-35672540
http://www.facebook.com/opticaprisma

QSS: Você disse que seus cunhados são sua principal influência no jogo, no entanto, por diversas vezes você comenta no twitter que não irá poder jogar para ter que ficar com a sua namorada, a irmã deles. Como é a relação dela com o jogo? Aprova? Desaprova? Pois embora algumas vezes você tenha que abrir mão do Poker para ficar com ela, vimos no BSOP que ela não arredou o pé de lá, torcendo durante todo o tempo.
BDM: A Paula é uma pessoa especial e que me apoia muito. Acho que em tudo na vida não podemos abusar, por isso aviso antes quando vou jogar, quando participarei de um torneio, mas também tenho ciência de que preciso me dedicar a ela também. Assim, evito de jogar dias de semana à noite, ou então por vários finais de semana consecutivos.
Porém quando estou no pano, ela está sempre torcendo, e isso me motiva muito.
Aliás, estou devendo o presente dela com a premiação :P

QSS: E falando agora do BSOP, sempre frisamos que o Poker não é um esporte de sorte. Mas será que poderíamos dizer que nesse torneio ela sorriu pra você?
BDM: Esse torneio foi um caso a parte. O começo foi bem complicado, pois na minha mesa haviam muitos jogadores iniciantes e agressivos, que não me deixavam movimentar muito.
O jeito foi esperar um valorzinho, e com 8-8, mesmo conseguindo uma trinca no turn, ainda perdi pra um flush no river.

Depois disso precisava dobrar, e com uma imagem tight, tribetei com K-J, contra um desses agressivos. Acertei meu rei no flop, fomos all-in e meu adversário pagou com flush-draw e duas pontas. Quando meu par de reis segurou, senti que ia longe. Quando faltavam 5 pro ITM, perdi um A-K pra K-T, que me deixou numa situação bem ruim, mas depois disso o baralho passou pro meu lado.

Numa das vezes em que a sorte sorriu pra mim, na mesa semi final, o “Mumu”, que inclusive fez o HU comigo, aumentou de J-J, e como ele estava muito ativo, decidi que iria empurrar com quaisquer duas cartas. Shovei J-9, e quando vi as cartas dele, já estava me levantando pra ir embora. No fim das contas, abriu uma sequência no board e dividimos o pote. Logo depois eu me envolvi num all-in com A-J contra J-J, meu ás bateu e segui firme. Nunca fiquei deep stack no torneio, pelo contrário, joguei short durante todo o tempo, tanto que também era o short stack na mesa final.

QSS: Ser o short stack em algum momento o desmotivou para a mesa final, uma vez que na mesa você tinha alguns oponentes duríssimos?
BDM: De forma alguma! Me sinto mais confortável jogando de 10 a 20 big blinds, do que com 40 ou 50 BBs. Com isso tudo eu sempre acabo vomitando (risos).

Sabia que seria uma mesa final difícil, mas acho que dei sorte que os melhores jogadores foram eliminados no começo dessa mesa.
O Todasso é com certeza o melhor jogador que eu já joguei contra, excepcional, muito forte mesmo. É difícil jogar contra e ele tinha um stack monstruoso. Como disse, tive sorte dele cair no começo, assim como o Fernando Araújo.


QSS: O jogo no 3-handed se estendeu por muito tempo, alguma vez você sentiu o desgaste físico ou mental do jogo?
BDM: Quando estávamos em 3 left nós paramos pra discutir um acordo, eu era o short, e com a proposta feita, eu e Humberto não aceitamos.
Depois jogamos mais um pouco e nos equiparamos na quantidade de fichas. Conversamos de novo e fechamos um bom acordo para todos.

O Humberto, que já estava com semblante muito cansado, caiu logo em seguida. Acho que ele estava completamente esgotado. Fui para o HU com uma grande desvantabgem, mas dobrei logo na primeira mão e depois de uma batalha duríssima eu consegui cravar e levar o sonhado bracelete!

Foram 32 horas de jogo, uma maratona, mas estou muito feliz de ter conseguido a cravada.

QSS: Parabens pelo resultado! Foi realmente um torneio incrível! 
Estamos chegando ao final da entrevista, e gostaria de abordar um tema que foi levantado durante o torneio, que foi a questão do field em BH ter sido pequeno. O que você acha disso? Acredita que o BSOP irá passar por ano mais uma vez no ano que vem?
BDM: Com certeza Belo Horizonte tem pessoal e estrutura pra sediar um torneio desse porte. Sem dúvida o imposto tem afastado um pouco o público, mas se você olhar as outras etapas, não foi uma diferença tão grande. Do RJ por exemplo, foram 40 jogadores. Além disso, tivemos o 500k do H2 uma semana antes, a viagem de muitos jogadores para jogar a WSOP  em Las Vegas, além do feriado.
Acho que Belo Horizonte tem potencial para muito mais! É um celeiro de grandes jogadores e que amam o Poker.


QSS: Pra finalizar, fale sobre seus planos para o futuro no Poker.

BDM: Meu sonho é jogar o WSOP em Las Vegas. Jogar alguns eventos e quem sabe beliscar algo.
Além disso, pretendo rodar mais o circuito nacional, conhecer lugares, pessoas e jogar poker.