E o segundo entrevistado do DonPlanet é o brasileiro Top DoN Player Poker Andres “g3 Rock Lee”
Carvalho.

Jogador dos DoN $100+ da PokerStars, g3 Rock Lee é um jogador ganhador e conhecido por muitos devido à sua forma de encarar o jogo e também devido a um dos seus recentes artigos publicados na Card Player, de enorme qualidade diga-se!

Antes de passar à entrevista, deixo-vos os gráficos do sharkscope relativos ao g3 Rock Lee:

Sem dúvida é um belo gráfico!

“entre os jogadores profissionais existem dois tipos de jogadores: os talentosos, e os que deram duro. Eu sou da classe dos que deram duro” by g3 Rock Lee.

ENTREVISTA COM Andres “g3 Rock Lee” Carvalho

1. Olá, para iniciarmos a entrevista faça uma apresentação, conte-nos quem é você, a sua profissão e sobre como se deu o início de sua carreira no jogo?
R: Bem, primeiramente gostaria de dizer que é um prazer ser entrevistado pelo DoN Planet, que, apesar de ser um blog recente, é uma iniciativa que eu respeito e gosto bastante.

Eu me chamo Andres Carvalho, tenho 24 anos e sou jogador profissional de pôquer há 2 anos. Na verdade eu comecei a jogar há 4 ou 5 anos atrás, inicialmente como um hobby junto com um grupo de amigos, mas como sou muito competitivo a coisa logo foi se tornando mais séria e um ou dois meses depois eu já estava procurando artigos na Internet para aprimorar o meu jogo.

Pouco tempo depois eu acabei descobrindo o circuito ABC de pôquer (na época era a terceira vez que o evento ocorria) e resolvi me aventurar nele. No Field estavam nomes que hoje são conhecidos do jogo como Thiago Decano, José Irineu e Salim, talvez o Akkari, não lembro. Logo de cara eu consegui ficar em ITM e a partir daí eu me tornei um jogador regular dos torneios Live de São Paulo, principalmente no Texas Tatuapé.

Jogando nesta cardroom eu quase me profissionalizei, eu vinha jogando SnGs de 50 e 100 reais e era um vencedor consistente, contudo acabei passando em um concurso público e parei de me dedicar ao jogo, coincidentemente, enquanto eu ingressava no funcionalismo público em detrimento do pôquer, o meu amigo Thiago Decano abandonava o serviço público para se profissionalizar no jogo.

Um intervalo de um ano se passou sem que eu jogasse seriamente até que no início de 2009 eu larguei o funcionalismo e voltei a jogar, dessa vez profissionalmente. Eu tinha menos de dez dólares no Pokerstars e sai jogando os DoNs de 1,10 e em menos de um mês depois eu já havia passado de 2K, desde então, a coisa vem crescendo e hoje eu jogo os DoNs mais caros que existem.

2. E a sua evolução técnica no jogo, como se deu?

R: Bem, eu comecei estudando através do site clube do poker, lendo as traduções resumidas do The Theory of Poker de David Sklansky, o que foi muito bom para eu pensar em cada elemento do jogo, desde o jogo pré-flop, até o check-raise. Simultaneamente eu pegava partes do Harrington on Hold’em 1 que eram traduzidas por fãs.

Logo eu mesmo tive que traduzir o restante do livro, meu inglês não era bom, então a coisa funcionava na base de tradutor online e de muita persistência. Bem tudo isso aconteceu quando eu jogava no Texas Tatuapé na minha primeira tentativa de me profissionalizar. Então eu tive alguns problemas pessoais e abandonei o jogo.

Como eu disse, um ano se passou, então voltei a jogar depois de largar o trabalho. Eu re-li o Harrington 1 e comecei a caçar artigos sobre DoN pela internet e li praticamente tudo que havia para ser lido. Depois eu passei a desenvolver a minha própria técnica para o jogo, utilizando o SnG Power Tools eu debulhei quase todos aspectos matemáticos que existem nos torneios DoNs.

Simultaneamente eu passei a dar Coach ao vivo para alguns amigos, pois ao ensiná-los eu reforçava os conceitos que eu já sabia, aprimorando o meu próprio jogo. Tive cinco alunos e quatro deles hoje são jogadores profissionais, sinto muito orgulho disso.
Neste período eu acabei esbarrando em um monte de novidades teóricas, quero dizer, aspectos técnicos do jogo que ainda não foram desenvolvidos. Havia um monte de trabalho a ser feito e eu sozinho já não era capaz de administrar tudo, então contratei um dos meus alunos para ser meu treinador em tempo integral.

Não se tratava de um simples coach como habitualmente ocorre no mundo do pôquer, é algo mais parecido com um treinador de um jogador de tênis. Esse meu treinador passou a vir a minha casa todos os dias e cumprir 8 horas diárias de segunda a sexta tendo como objetivo apenas o meu aprimoramento no jogo. A idéia deu certo e rendeu frutos, nessa época eu cheguei a primeiro do Ranking sharkscope de torneios DoN tanto em ROI como em lucro total. Em dezembro de 2009 eu venci um grande torneio de domingo do Pokerstars e resolvi tirar férias, não jogando o último mês do ano e por isso não acabando na liderança do ranking.

Em janeiro de 2010 eu resolvi voltar a jogar e contratei mais um treinador, montei um escritório exclusivo para o jogo e venho procurando me aprimorar cada vez mais. Este vem sendo um ano de muito aprimoramento técnico, mas sem muitos resultados expressivos, mesmo porque, eu não venho me focando muito em ganhar dinheiro, tenho ao invés disso procurado me tornar um jogador mais sólido em outras modalidades e pretendo ir ao circuito internacional em breve com chances significativas de sucesso.

3. Interessante, explique-nos melhor sobre essa sua relação com os seus treinadores, é uma idéia pioneira, não?

R: Quando eu comento disso com alguém, quase sempre a pergunta seguinte é:
– mas o seu treinador joga melhor do que você? Eles confundem a função de treinador com a de professor, são coisas diferentes, enquanto o segundo ensina aquilo que nós não sabemos, o primeiro procura lhe treinar, afiar as suas habilidades, fazer com que você evolua graças a si mesmo. Como disse, é treinador no sentido mais esportista, como um treinador de um boxeador profissional, ele não luta melhor do que o atleta que é treinado, mas, mesmo assim, faz com que ele se torne um lutador cada vez melhor.

4. E como funciona esse treinamento?
R: Bem, uma série de coisas, desde tradução de livros, até análise de hand-histories e montagem de notes. Basicamente eles identificam quais são as minhas fraquezas e me direcionam a neutralizá-las, assim como também, eles me fazem não me acomodar com o meu conhecimento, fazendo com que eu sempre esteja tentando evoluir o máximo possível.

5. Como você prevê o futuro da modalidade?
R: Penso que a modalidade ainda está em crescimento, mas duvido que ela consiga se expandir muito mais. O jogo se promove graças à grandes premiações e a televisão. Não creio que o Pokerstars, ou qualquer outro site, tenha planos de criar DoNs mais caros do que $100 dólares, mesmo porque não há Field para isso. Quanto a televisão, também parece-me inviável, se bem que seria realmente muito interessante um DoN live de 100K de buy-in com Ivey, Negreanu e companhia na mesa.

6. E quanto ao seu futuro no DoN?
R: Honestamente eu não pretendo jogar DoN o resto da minha vida. Hoje ele é o meu ganha pão, mas a ausência de stakes maiores me faz querer migrar para novas modalidades.

7. Quais são os maiores erros que você vê os jogadores cometerem?
R: Existem sete pecados capitais no pôquer:
• Superficialidade: encarar o jogo de forma simplista, optando por não enxergar toda a complexidade que ele carrega.
• Voracidade: querer realizar as coisas prematuramente, seja no jogo em si, forçando em excesso, seja na administração de bankroll, tentando ficar rico com o jogo em um mês.
• Inconseqüência: significa fazer uma jogada sem pensar nas suas conseqüências, é apostar pensando que o oponente vai desistir, sem cogitar outras possibilidades, isso é terrível, pois faz com que você se torne um jogador otimista ou pessimista, quando as suas avaliações deveriam ser neutras.
• Desperdício de tempo: Tornar-se um bom jogador é um fenômeno que ocorre 70% do tempo quando não se está jogando, O estudo, a discussão com os amigos, tudo lhe ajuda, algumas coisas mais e outras menos, filtrar onde e como aprender, pode significar o dobro, talvez o triplo de evolução técnica. Seguindo os caminhos certos, um leigo é capaz de ganhar mais de dez mil reais em um mês, com dois meses de treinamento.
• Apego excessivo à calmaria: significa se acomodar em jogar apenas contra os jogadores mais fracos. Sem alguma ambição você não pode ir muito longe, não se contente com as migalhas, é preciso desejar o bolo todo, no entanto, é necessário ter cautela, mas sempre estando alerta com a relação ganhar dinheiro/evoluir.
• Suscetibilidade emocional: Entrar em tilt, tomar decisões emocionais, enfim, deixar com que o seu temperamento domine sua razão.
• Covardia: Quem não arrisca não petisca. Jogadores pouco aventureiros evoluem mais lentamente, na minha opinião este é o motivo pelo qual a maioria dos jogadores top do mundo são loose-agressive, não é pela força do estilo em si, mas da forma como o estilo propõe mais experiência e maior reflexão quanto ao jogo.

8. Tem algum ídolo(s) no poker?
R: Phil Ivey e Layne Flack. Layne tem seus altos e baixos, mas quando ele está no alto ele é simplesmente imbatível. Ivey é constante e a sua forma de jogar beira a perfeição, admiro muito ambos.

9. Qual o melhor e pior acontecimento que o poker lhe proporcionou?
R: O pior foram os tilts/bad runs e o como eles afetavam as minhas relações extra-game com a família, com os amigos e minha namorada. É realmente difícil as pessoas entenderem, você as acaba machucando e nem sempre é algo que tem volta. O melhor é a sensação de vitória e a qualidade de vida que o jogo pode propiciar.

10. Como você classificaria a sua forma de jogar?
R: Bem, entre os jogadores profissionais existem dois tipos de jogadores: os talentosos, e os que deram duro. Eu sou da classe dos que deram duro. Eu não sai desde logo jogando bem, ou fazendo leituras maravilhosas. A minha carreira não teve início com uma grande cravada ou algo do gênero, comigo foi uma luta dólar a dólar, stake a stake. Quando jogo, gosto de manobrar em situações complicadas, penso que sou capaz de jogar melhor do que a maioria dos meus adversários quando há elementos demais para lidar, em contraponto, acho que me entedio facilmente, complicando spots que um jogo direto seria mais efetivo. De qualquer modo eu amo o jogo, acho que se o pôquer fosse proibido, eu provavelmente me tornaria um contrabandista.

11. Para concluir, o que acha deste novo blog específico para DoN’s?
R: Certamente se um blog como este existisse na época que eu estava iniciando minha carreira nos DoNs a minha vida seria bem mais fácil, agora a existência dele apenas complica a minha vida, enchendo o Field de jogadores mais qualificados. Eu odeio vocês =). Brincadeira, a iniciativa é excelente e só podem merecer os meus aplausos, parabéns.