Quatro, seis, dez horas entre cartas de baralho, muita concentração e estratégia. Cada vez mais popular, o poker se tornou, mais do que uma diversão para muitos, uma profissão para outros tantos.

Reconhecido pela legislação brasileira como esporte mental, que considera ‘jogo de azar’ apenas os jogos que dependem somente ou principalmente da sorte, o poker hoje, no Brasil, só é proibido para menores de 18 anos e, claro, livre de apostas. O novo esporte possibilitou o surgimento de nomes como Alexandre Gomes, Thiago “Decano” e Caio Pimenta, profissionais que possuem cerca de US$ 2.000.000 em premiações.

Para se profissionalizar, no entanto, muito estudo, leituras, disciplina e controle emocional são necessários. É o que garante Hugo Adametes (26) que considera hoje o poker como profissão, já participou de torneios nacionais e internacionais e falou sobre o esporte ao DU:

Há quanto tempo joga poker? Como surgiu o interesse pelo jogo?

Há 4anos o poker se popularizou bastante ao ser transmitido pela ESPN, à partir de então alguns amigos começaram a se reunir semanalmente pra brincar; depois de um tempo eu e mais alguns que nos interessamos mais pelo jogo decidimos passar a estudar a fundo e a jogar “online” (pela internet).

Hugo durante o WSOP

Você considera o poker como uma profissão?
Considero sim, uma vez que é bastante viável ser lucrativo, afinal, a maioria dos oponentes que encontramos nas mesas de poker são jogadores recreativos, o que facilita bastante pra quem quer levar a sério.

Como está sendo esse processo de profissionalização? Dicas para quem quer transformar o jogo em profissão?
Pra aprimorar o jogo existem diversos recursos: desde livros (por onde sugiro começar, os do Dan Harrington são muito bons para iniciantes em torneios), fóruns, sites de instrução, grupos de discussão, até cursos particulares – os quais ministro, inclusive.
Devido à sua subjetividade e por ser um jogo de pessoas, o poker é bastante complexo, exigindo constante estudo e prática. Logo, não existe caminho fácil, é estudar, ter disciplina, tempo e bastante controle emocional. Facilidade em matemática com certeza ajuda bastante.

O poker sofre certo preconceito, você já passou por situações desconfortáveis por isso?
Na verdade, me iniciei no poker de maneira cautelosa, especialmente quanto à parte financeira. Sendo assim, desde o início, expliquei à minha família e amigos como funciona e os mesmos sempre entenderam e me apoiaram bastante.

Qual sua opinião sobre a polêmica de o poker ser um jogo de azar ou um esporte mental?Acredito que essa polêmica nunca acabará, o que define se algo é “esporte” é mera convenção, talvez se o poker continuar a crescer desenfreadamente e envolver mais e mais dinheiro passe a ser considerado esporte, por puro interesse, é claro. Por exemplo, A IMSA (Associação Internacional de Esportes da Mente, em inglês) reconheceu o poker como esporte esse ano, incluindo o poker nos Jogos Mundiais de Esportes da Mente, que ocorrem paralelamente as Olímpiadas, e pode ter certeza que esse “reconhecimento” só se deu pela movimentação financeira que o poker proporciona.

Já “jogo de azar”, segundo a legislação brasileira, é o jogo que depende somente ou principalmente da sorte. Todos estudiosos de poker sabem que o jogo dependerá da sorte apenas no curto prazo, não à toa os mesmos profissionais vencem torneios com milhares de competidores ano após ano, enquanto os jogadores recreativos raramente ganham. Mas confesso queprefiro que a maioria ainda considere o poker como jogo de azar – como o bingo, onde todos têm chances iguais – já que isso atrai cada vez mais jogadores recreativos, o que é ótimo para os jogadores profissionais.

De quais torneios você já participou? Quais são os mais importantes?

Pela internet já joguei mais de três mil torneios, dos mais variados valores. Mas com certeza o mais importante ao vivo que joguei foi o evento principal da WSOP (considerado o campeonato mundial de Poker que ocorre anualmente em Las Vegas) em julho deste ano em que o 1º colocado leva pra casa 9 milhões de dólares, pena não ter sido eu. Participei também do Campeonato Europeu, Brasileiro, Latino-Americano, entre outros torneios “ao-vivo”.
Costumo dar notícias durante os torneios pelotwitter e também discutir mãos com outros jogadores.

Um torneio de poker pode demorar 4, 6, até 10 horas. Como você faz para aguentar o ritmo?Habitualmente, jogo bem descansado e começo às 14:00, e costumo jogar até às 22:00 cerca de 10 mesas ao mesmo tempo, o que exige bastante da cabeça pra manter-se focado. Alimentação e sono regulado com certeza são essenciais pra estar 100% durante esses “enduros”.