Reconhecido pela legislação brasileira como esporte mental, que considera ‘jogo de azar’ apenas os jogos que dependem somente ou principalmente da sorte, o poker hoje, no Brasil, só é proibido para menores de 18 anos e, claro, livre de apostas. O novo esporte possibilitou o surgimento de nomes como Alexandre Gomes, Thiago “Decano” e Caio Pimenta, profissionais que possuem cerca de US$ 2.000.000 em premiações.
Para se profissionalizar, no entanto, muito estudo, leituras, disciplina e controle emocional são necessários. É o que garante Hugo Adametes (26) que considera hoje o poker como profissão, já participou de torneios nacionais e internacionais e falou sobre o esporte ao DU:
Há quanto tempo joga poker? Como surgiu o interesse pelo jogo?
Você considera o poker como uma profissão?
Considero sim, uma vez que é bastante viável ser lucrativo, afinal, a maioria dos oponentes que encontramos nas mesas de poker são jogadores recreativos, o que facilita bastante pra quem quer levar a sério.
Como está sendo esse processo de profissionalização? Dicas para quem quer transformar o jogo em profissão?
Pra aprimorar o jogo existem diversos recursos: desde livros (por onde sugiro começar, os do Dan Harrington são muito bons para iniciantes em torneios), fóruns, sites de instrução, grupos de discussão, até cursos particulares – os quais ministro, inclusive.
Devido à sua subjetividade e por ser um jogo de pessoas, o poker é bastante complexo, exigindo constante estudo e prática. Logo, não existe caminho fácil, é estudar, ter disciplina, tempo e bastante controle emocional. Facilidade em matemática com certeza ajuda bastante.
O poker sofre certo preconceito, você já passou por situações desconfortáveis por isso?
Na verdade, me iniciei no poker de maneira cautelosa, especialmente quanto à parte financeira. Sendo assim, desde o início, expliquei à minha família e amigos como funciona e os mesmos sempre entenderam e me apoiaram bastante.
Qual sua opinião sobre a polêmica de o poker ser um jogo de azar ou um esporte mental?Acredito que essa polêmica nunca acabará, o que define se algo é “esporte” é mera convenção, talvez se o poker continuar a crescer desenfreadamente e envolver mais e mais dinheiro passe a ser considerado esporte, por puro interesse, é claro. Por exemplo, A IMSA (Associação Internacional de Esportes da Mente, em inglês) reconheceu o poker como esporte esse ano, incluindo o poker nos Jogos Mundiais de Esportes da Mente, que ocorrem paralelamente as Olímpiadas, e pode ter certeza que esse “reconhecimento” só se deu pela movimentação financeira que o poker proporciona.
Já “jogo de azar”, segundo a legislação brasileira, é o jogo que depende somente ou principalmente da sorte. Todos estudiosos de poker sabem que o jogo dependerá da sorte apenas no curto prazo, não à toa os mesmos profissionais vencem torneios com milhares de competidores ano após ano, enquanto os jogadores recreativos raramente ganham. Mas confesso queprefiro que a maioria ainda considere o poker como jogo de azar – como o bingo, onde todos têm chances iguais – já que isso atrai cada vez mais jogadores recreativos, o que é ótimo para os jogadores profissionais.
Pela internet já joguei mais de três mil torneios, dos mais variados valores. Mas com certeza o mais importante ao vivo que joguei foi o evento principal da WSOP (considerado o campeonato mundial de Poker que ocorre anualmente em Las Vegas) em julho deste ano em que o 1º colocado leva pra casa 9 milhões de dólares, pena não ter sido eu. Participei também do Campeonato Europeu, Brasileiro, Latino-Americano, entre outros torneios “ao-vivo”.
Costumo dar notícias durante os torneios pelotwitter e também discutir mãos com outros jogadores.
Um torneio de poker pode demorar 4, 6, até 10 horas. Como você faz para aguentar o ritmo?Habitualmente, jogo bem descansado e começo às 14:00, e costumo jogar até às 22:00 cerca de 10 mesas ao mesmo tempo, o que exige bastante da cabeça pra manter-se focado. Alimentação e sono regulado com certeza são essenciais pra estar 100% durante esses “enduros”.