Primeiro, disseram que o mundo acabaria este ano. Que os Maias, povo antigo dado a pregar peça nos outros, previram tal catástrofe e nos quiseram alertar. Depois (e isto tem já alguns meses), que o mundo teria ainda mais 7 mil anos de vida. Um alívio. Porém, recentemente, as bases da predição foram novamente alteradas.
Jaburu, apaixonado por pôquer, baralhão inconsciente de seu estilo, apegado a qualquer Q high, a qualquer naipadinho acima de 2, vem fazendo fama à luz das mesas poquerísticas. Nunca puxa nada. Mas causa desconforto em todos quando se senta para jogar: uma nuvem cinérea e ronronante abrolha acima da cabeça de seus, dele, oponentes e toma de empréstimo os raios de Zeus a tonitroar. Recompensas são oferecidas por sua eliminação.
Jaburu iniciou no pôquer há mais ou menos um ano e desde então nunca mais parou de dar baralhadas nos outros. Quando numa mesa, podemos ouvir as exclamações: “Que que isso!”, “Inacreditável!”, “Na river!… De novo!”. Quando questionado sobre o porquê de pagar tantos raises e re-raises, ele responde: “Mas só vem jogo bom!”.
Bom ou não, o caso é que nunca cravou um torneio… Até ontem.
Seu oponente foi all-in no bordo J357 segurando KK. Jaburu soltou a falinha: “Ah! Quero ir pra casa”. E deu o call, abrindo Q4o. “Na broca, Jaburu?”, zombou seu adversário. “O 6 bate”, respondeu convicto. E bateu, para o delírio deste que vos fala e profunda repulsa do infeliz jogador.
― Não disse?, vangloriou-se.
Venceu. Levantou o caneco. Saiu feio na foto (alguns milagres Deus não concede) e condenou a todos nós.
Porque Jaburu é descendente do povo Maia: usa suas habilidades proféticas para jogar pôquer. E quando o faz, assinala o fim do mundo.