Já perdi as contas de quantas vezes escutei essa pergunta. E olha que jogo micro stakes. Imagina quem realmente ganha muito dinheiro com isso?

Caio Pimenta, Akkari, Alegomes, CK, Decano, Mojave, todos com ganhos milionários! Isso pra citar só alguns. Tem muita, mas muita gente forrando pesado com poker. Eu ainda chego lá, ah chego! E quando chegar vou achar essa pergunta que intitula o post ainda mais indelicada.

Imagine a cena: Você chega num lugar, conhece umas pessoas, ou então se reúne com os amigos e decide contar as novidades. Eis que você pergunta:
– Mas e aí Túlio, o que você anda fazendo?
– Ah cara, eu formei e agora virei dentista. Montei um consultório com uns amigos da faculdade.
– É mesmo? Que bacana! E quanto você ganha por mês?
Outro exemplo:
– Carlinha! Poxa, como você está linda! Já formou?
– Não, to na faculdade ainda, mas estou trabalhando numa loja do shopping.
– Bacana, e quanto você está ganhando por mês lá?
Certamente o pensamento das duas pessoas ao escutar essa pergunta seria:
– Nossa, que cara retardado! Isso é coisa que se pergunte?
O quanto eu ganho diz respeito a mim e a mais ninguém. Você, quando conhece um dentista, um médico, um corretor, um advogado, um farmacêutico não fica perguntando o quanto ele ganha. Não se pergunta a ninguém o quanto ele/a ganha por mês! Sabe porque? Porque isso não lhe diz respeito! Pra que você quer saber o quanto uma pessoa ganha por mês? O que isso vai influenciar na sua vida?
O poker realmente mexe com nossa imaginação. Ganhar rios de dinheiro num torneio, do dia pra noite. Mas não é assim. Quem joga sabe que pra ficar milionário você tem que investir. E não só dinheiro. Tempo, estudo, convivência com os amigos, com a namorada, sacrifícios que certamente serão recompensados, mas que custam caro!
Comecei a jogar sério no começo de 2009, e nessa época fazia dois estágios. Quando passei a intensificar minhas sessions, comecei a dormir cada dia mais tarde, pois trabalhava o dia inteiro e estudava de noite. Resultado? No dia seguinte até aguentava o ritmo do PROCON, que era mais intenso, com contato diário com consumidor, e com a turma que trabalhava lá, que era muito divertida. Raxação total com Genera, Henrique, James, Du, Rodrigão, Rafa, Bruninho, Magá, Ronan, e muitos outros. As meninas, Lígia, Fabiana, Júlia, Flávia, Mari, Rosângela, Pri, Fery… Saudades galera! Nas tardes eu ia trabalhar no gabinete do grande Dr. Jaubert, na 4ª civel, fazendo sentenças. Gostava do estágio, da Dani, que me ensinava tudo, e do Juiz, que era muito engraçado e competente! Uma das únicas varas que estavam em dia! E eu dando a minha contribuição, mesmo que um pouco de atraso rsrsrsrs. Também pudera, ficar acordando depois de 4 horas de sono e 6 horas de trabalho era uma loucura.

Tinha meia hora de almoço e já emendada mais 4 horas de trampo. 10 horas diárias. Saia correndo e ia pra faculdade! Ficava lá até 23:00 e quando chegava em casa ficava louco pra jogar! Jogava umas 4 horas e no dia seguinte era tudo de novo. O cansaço era demais e na sexta-feira eu estava esgotado! Mas não tanto para deixar de ir a aula e ir ao Queijo Poker!

Não deu. Pedi pra sair do estágio no gabinete, pois era o mais cansativo pra mim, apesar de ser o melhor profissionalmente falando. Continuei na minha rotina, mas passei a jogar até mais tarde ainda. Perdi as contas de quantas vezes fui praticamente virado pro trabalho depois de horas jogando cash game no Party Poker. Começa uma session e quando via as vezes estava U$ 100 pra baixo, e ficava até recuperar e sair pra cima. Ainda bem que a maioria dos dias eram só alegria, mas nesses dias você também não quer parar. Voltava pra casa morto, almoçava e dormia a tarde toda. Acordava na hora da aula, que a essas alturas também já não estava nada interessante. Ainda bem que não fui muito prejudicado lá. A UFMG é excelente, porém o seu forte não seja fazer chamadas todo dia.
O tempo foi passando, as namoradas não aguentaram. Perdi duas em um ano. Do jeito que estava, logo vi que teria que fazer o último “sacrifício”: largar o segundo estágio.
Não foi só uma questão financeira. Foi um estilo de vida que decidi adotar. Quero ser jogador de poker. E não é que eu não queira trabalhar. Quero dedicar meu último ano à faculdade também, até porque se tudo der errado, eu tenho que ter um plano B, se o flush não bater, você vai blefar sabendo que o cara vai te pagar? Não! Você tem que estar pronto pra correr. Sinceramente acho que não vou precisar, porém, quem assistiu Zombieland sabe que você tem que seguir muitas regras se quiser sobreviver, e uma delas, é saber onde encontrar a saída!
Enfim, contei um pouco da minha história, porque estou cansado de me perguntarem o quanto ganho jogando poker. O que eu quero que vocês vejam, é que se eu ganho alguma coisa, por mais pouco, ou muito que seja, não é porque sou um vagabundo, um viciado, porque vou apostar minha casa, meu carro, minhas fazendas… Se eu ganho alguma coisa é porque eu estou estudando e batalhando muito, mas MUITO MESMO pra isso!
Tenho certeza que esse desabafo não é só meu.
Abraços a todos!

Thiago Pessoa