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Eu poderia narrar aqui vários casos curiosos do mundo do pôquer. Mas tenho a certeza de que o leitor também. Portanto, dou-me por vencido e narro-lhe apenas uma. Aconteceu no BSOP 2013 – 1ª etapa.

O dealer, que vou alcunhar de “Pedigree”, fora render seu colega de trabalho. A este chamarei de “TNT”. Como é costume, os dealers damos um tapinha no ombro do que está carteando para informá-lo da substituição. Pedigree assim fizera. Rendia TNT no evento PL Omaha no momento em que este, a comunicar o pote a um jogador, o contava… 900, 1200, 1500…

Aqui sentiu a mão de Pedigree tocar seu ombro. Não teve dúvidas. Ciente do código ultrassecreto dos dealers e de sua inteira responsabilidade como parte de um grupo, imbuído de profundo profissionalismo, rapidamente arrastou para trás a cadeira e, num pulo, levantou-se, dizendo: “Olha, parei nos 1500; só continuar”, e foi andando. Pedigree ficou sem saber o que fazer. Pensou em rosnar, mas não era cachorro. Conformou-se, então, e seguiu com a contagem…

TNT, a propósito, fora também protagonista de outro caso no mesmo torneio.

Como é sabido, há muitos estrangeiros jogando o BSOP, inda mais agora com os satélites no Poker Stars, e, inda que o dealer não saiba falar inglês ou espanhol, é possível usar a linguagem deturpada dos sinais. Bem, TNT arranhava em ambas. E decidiu usar seu conhecimento para executar seu trabalho.

Tendo à sua esquerda Bill Gazes, tornara-se mais atento às apostas a fim de informar ao famoso jogador o valor das mesmas. Em dado momento, um jogador na extremidade da mesa pegara uma ficha de 5K e, antes de jogá-la, olhou para TNT e anunciou: “Mil”. Contente por enfim poder usar seus conhecimentos linguísticos, virou-se para Gazes e disse: “Mil hundred, sir”. Foi prontamente corrigido por outro jogador, que disse, sorrindo com o canto da boca: “Dealer, não é mil hundred, não”. “Ah, desculpa!”, tornou TNT. “É mil thousand, senhor”. E Bill Gazes foldou, claro.