Alcunha de Vítor Z., jogador de pôquer conhecido por seu jeito de andar e de estar à mesa. Chamava para si a atenção assim que chegava a um torneio: andava arrastando a perna esquerda, como se esta estivesse ferida, gemendo, como se sentisse dor, e, à mesa, olhava a todos com a cabeça um tanto baixa e pensa, com um olhar catatônico, por assim dizer; tudo muito semelhante a um zumbi. Daí seu apelido. Somava-se a isto suas roupas “maltrapilhas”, isto é, desarranjadas: calça jeans na linha da bunda, camiseta larga e tênis 40 e tantos.

Era uma pessoa reservada, educada, sim, mas que tanto à mesa quanto fora dela se mantinha em seu mundo, cultivando seus próprios pensamentos. Poucos, bem poucos, conseguiam extrair dele uma conversa de 10 minutos. Era um bom homem e um bom jogador. E o epíteto não lhe inflamava o peito.

Certo dia, seus colegas mais chegados quiseram improvisar-lhe uma brincadeira e combinaram com todos os participantes de um torneio no interior de São Paulo de, assim que ele entrasse no salão, correrem desesperados a se esconder, gritando: “Zumbi! Meu cérebro não!”.

E assim foi feito. E o “zumbi” arregalou os olhos, de surpresa.

Minutos depois, Vítor estava à mesa, com seu olhar e postura característicos, envolvido numa mão contra um jovem, iniciante no pôquer. Vítor acabara de dar re-raise all-in num bordo de T97JQ, sem possibilidade de flush, e o jovem pensava. Para seu infortúnio, querendo extrair alguma informação decerto, soltou a seguinte falinha:

— Ei, walking man! Não me olha desse jeito, não, hem, senão pago o senhor, e riu da própria fala.

Mas uma falinha dessas não abalaria o senhor dos mortos, que disse em retorno:

— Se você me pagar esse all-in, vou comer seu cérebro. E, para dar mais veracidade à fala, inclinou a cabeça para a esquerda e soltou um gemido. O jovem deu insta-fold. Não abriu mais a boca durante todo o torneio, até ser eliminado.