Os pares baixos estão entre as mãos mais lucrativas do poker. Cartas como 22, 33, 44, 55, 66, 77 e até 88 são muito difíceis de se ler. Raramente será possível evitar que seu adversário tire muitas fichas suas quando você acertar o top pair (o maior par da mesa. Exemplo: você tem AQ e a mesa traz Q-9-3) ou um over pair (um par maior do que a maior carta da mesa. Exemplo: você tem KK e a mesa traz Q-9-3) e ele tiver, por exemplo, 33, acertando uma trinca. Nessas circunstâncias, é grande a chance de você ser “fatiado”.

A recíproca também é verdadeira. Logo, essa mão pode ser muito lucrativa no caso de você acertar uma trinca. Então, vamos estudar algumas situações de jogo, bem como a melhor maneira, no meu ponto de vista, de jogá-la.

Ponto 1 – Pré-requisito para a lucratividade

Você só deve enfrentar adversários cujo stack contenha pelo menos 12x vezes o valor da aposta pré-flop.

Exemplo: Blinds 50/100. Um cara apostou 300 pré-flop e você recebe 55.

Se você for o cara que apostou 300 pré-flop e ambos tiverem pelo menos algo em torno de 3.600, o mais correto é chamar.

Você só vai trincar em cerca de 12% das vezes. No baralho restam 50 cartas e somente duas delas lhe darão a trinca (os dois Cincos). Portanto, nas três cartas que abrirão no flop, você tem aproximadamente 12% de chance de acertar sua mão. Essa percentagem significa que 1 em cada 8 vezes que entrar no flop. Portanto, essa única vez (dentre as outras 7 que você não irá trincar) deverá pagar o investimento das demais, ou então jogar com esse par baixo não terá sido lucrativo. Assim, seu adversário tem que ter, no mínimo, 8x o valor da aposta pré-flop para que seja viável pagar essa conta. Mas então, por que eu disse 12 vezes? Porque nem sempre, mesmo trincando, você conseguirá arrancar 8x o valor da aposta pré-flop de seu adversário. Desse modo, você precisa arrancar cerca de 12x para garantir a lucratividade total do processo. A conta é bem mais complicada do que isso, mas vou parar por aqui, pois a idéia principal já pôde ser entendida.

Ponto 2 – Não encareça potes antes do flop

Os potes pré-flop não devem ser encarecidos por você.

A razão é óbvia. Já que é preciso recuperar 12x o valor da aposta inicial para que seja lucrativo jogar pares baixos, deixar o pré-flop mais caro tornará esse objetivo mais difícil de ser atingido.

Além disso, essas costumam ser mãos em que você ganha muito caso trinque, sem perder muita coisa caso não acerte nada no flop. Assim, não encarecer a aposta pré-flop é um bom começo para não se machucar nessa mão. Só faça o pré-flop ficar mais caro na reta final do torneio, para roubar os blinds ou para voltar all-in quando estiver short stacked, com a intenção de arriscar tudo numa única “tacada”. Falarei sobre isso no ponto 4.

Ponto 3 – Como jogar sendo o primeiro a entrar na mão

Randomize suas apostas pré-flop para confundir seus adversários.

No início da mesa – quando ninguém ainda entrou no pote – o melhor a fazer é variar entre aumentar 3x o blind (2 a cada 4 vezes) e somente dar limp (2 a cada 4 vezes) para que ninguém saiba que, sempre que você apenas paga o big blind, é porque tem um par baixo. Se tomar um raise pesado, largue seu pocket pair sem muita lamentação. Se der call, tenha em mente as contas que foram explanadas no ponto 1 (tanto para cash games quanto para torneios), bem como seu stack, average, faixa de premiação e fase do torneio. Se a mesa apresentar raises e reraises, largue sem nenhuma cerimônia.

Ponto 4 – Como jogar quando a mesa já tiver um raise

Caso alguém já tenha dado raise pré-flop apenas pague, com a pertinência das contas e cálculos citados no primeiro tópico. Por outro lado, se você estiver na reta final do torneio e for grande a necessidade de arriscar para tentar dobrar suas fichas, você pode dar all-in.

Exemplo: Blinds em 1.000/2.000 com ante de 200. Seu stack: 17.000. Um cara faz uma aposta de 5.000, com jeito de quem está tentando levar os blinds. O pote tem 3.000 dos blinds + 1.800 de antes + 5.000 da aposta de seu adversário. Total: 9.800.

Nessa situação você pode voltar all-in e:

I- se ele estiver roubando ou tiver uma mão fraca, poderá desistir e largar os 9.800 para você;

II- se ele tiver AK ou AQ, por exemplo, você entrará numa race, com 50% de chances de dobrar e 50% de chances de ser eliminado – ótimo para o momento que você está vivendo; e

III- caso ele tenha um par alto, você entra com cerca de 20% na mão e reza para acertar sua trinca.

Na reta final de um torneio, quando os blinds estão assassinos, não há como escapar dessas “corridas” e coin flips.

Ponto 5 – Saiba como sair sem se machucar

Caso você pague a aposta pré-flop e não acerte a sua trinca, largue sua mão diante de uma aposta de seu adversário.

Você pagou para trincar: não vá levar para o lado pessoal e ficar pagando, tentando não acreditar que ele tem aquele K que veio no bordo. Par baixo é lucrativo exatamente porque você pode sair da mão sem se machucar, se não acertar sua trinca. Por mais que ele esteja roubando ou dando um continuation bet, aceite o fato de que aquele pote não é seu e saia sem lamúrias, mágoas ou lamentações. Pague, NO MÁXIMO, mais uma aposta para ver como ele reage no turn – caso você esteja numa posição favoravel.

Espero que com essas dicas você consiga lucrar jogando pares baixos.

Good Luck!!!

Artigo de Igor Federal, publicado na Revista Card Player Brasil de Agosto/2007. Assine a Card Player Brasil e ganhe 20% de desconto.