“É fácil, superarmos acontecimentos caóticos quando estamos providos, a dificuldade, está em superar esses acontecimentos desprovidos. Portanto, quem preza por sua cabeça que a segure.”

Atualmente o poker live, por algum motivo, encontra-se em um nível de conhecimento teórico imensamente menor que o poker online. Podemos perceber tal afirmação ao sentarmos, por exemplo, em um cash game live, players que em suas ações vão de encontro a todos os preceitos didáticos acerca do game, 3bets com Q4o, pushs de 200BBs com K2o, verdadeiros donkeys, quais não respeitam se quer seu bankroll, assim nos fazem vítimas muitas vezes, de um ou dois outs no river e piadas como, “peguei você garoto!”.

Bankroll, sem sombras de dúvida, a palavra mais importante do parágrafo acima onde devemos parar, pensar, analisar, pensar novamente e perceber que essa é nossa maior arma para percorrermos a linha da lucratividade, contra esses donkeys do cash live.

A princípio devemos refletir sobre o seguinte prisma: Como fazer para não tiltar com uma bad-beat AK vs K2s, contra um vilão que não sabe nada sobre poker e deu call flop, turn e acertou seus dois pares do river?. Para respondermos a tal pergunta, devemos ter em mente, que a maneira mais fácil de não sairmos do nosso A-Game é o controle de bankroll. Muitos de nós estamos cientes sobre as bad-beats, elas irão acontecer. Mas, ainda assim, entramos em tilt por causa delas. Por trás disso, não foi o problema da bad-beat em sí, mas, toda a verdadeira problemática está em sabermos que não podemos ter mais resultados negativos, do contrário iremos ficar sem dinheiro, isso, realmente é o que nos tira do nosso A-Game.

Como crianças, somos avisados, “Respeitem seu bankroll”, mas negligenciamos e desmazelamos esse assunto. Jogamos fora do nosso bank, fazemos moves up’s errôneos, tiros que custam grande parte do nosso dinheiro. Como se nossa mãe dissesse: “Não coloque o dedo na tomada”, vamos lá e colocamos. O choque! Isso é o mais importante, o choque, o A-ha moment, o estalo, como quiserem chamar. Esta é a verdadeira afirmação e confirmação do Empirismo, só aprendemos com a experiência. Vamos desrespeitar nosso bankroll somente até pagarmos caro por isso, até enjoarmos de falir ou após experimentarmos o quanto é bom jogarmos sem pressão alguma, longe da linha da falência.

Foi assim que descobri, e fiz do estalo, do choque, do dedo na tomada meu a-ha moment e evolui em anos luzes meu game.

Há algum tempo atrás, jogava poker sem me preocupar com meu bankroll, tinha um bom conhecimento no jogo, estava muito além dos meus adversários, já tinha lido alguns livros e acompanhava frequentemente fóruns na internet, mas nunca tinha dado crédito para o assunto bankroll, tudo o que ganhava gastava. Então, fui surpreendido. Certa vez, passando por momentos ruins, comecei a ter inúmeros resultados negativos, me sentia nervoso e tenso ao jogar, alguma coisa me incomodova, nada dava certo e as perdas sempre aumentando. Passei a consultar alguns amigos (João “IneedMassari” Simão” & Júlio “JckillerBH” Cesar) que sempre me falavam a mesma coisa, bankroll, bankroll, gestão de banca, bankroll manager, 50buyns, 80buyns, 100buyns, escolha alguma opção que te deixe confortável.

Depois de muitas noites acordado (algumas vezes até com taquicardia) pensando nos momentos negros nas mesas, tomei uma decisão, sem dúvidas, a mais importante até agora na minha caminhada rumo à profissionalização, respeitar meu bankroll, jogar dentro do meu bankroll.

No dia seguinte, sentei em frente ao computador e comecei pensar algumas coisas e estudar sobre bankroll, segui uma tática que irei explicar. No ano de 2008, um dos meus últimos anos de caddie no Terra Vista, Golf Club Trancoso, fui chamado para jogar com um senhor de nome Sá Moreira, um empresário paulista muito famoso, jogamos durante quatro dias, no último dia ele me disse, “se você ganhar vou te ensinar a ficar rico”, ao longo do dia ele me questionou sobre o meu futuro, o que eu almejava, coisas quais pretendia, por fim, ele me falou a seguinte frase, “sabe porque os Judeus são tão bons em ganhar dinheiro? A tática para o sucesso é você ter uma excelente gestão financeira, estude sobre gestão financeira e não tenha medo de investir. Os Judeus devolvem para a empresa 70% do lucro que ela produzir, eles só usufruem 30% desse lucro.” Logo após chegar em casa, escrevi essa frase e a guardei. Nunca imaginei tamanha utilidade para ela.

Lembrei da frase dita pelo Sr. Sá, então, cheguei à conclusão para os meus problemas com Bankroll: Todos os meus ganhos 70% vão ser direcionados para o meu bank e os demais investimentos do poker os outros 30% para os meus gastos próprios. Fiz algumas planilhas no Excel, e comecei um policiamento próprio e minucioso, anotava centavo por centavo.

No dia seguinte, fui até um Banco e abri uma poupança exclusivamente para o poker, consegui 8buyns e iniciei minha nova fase, jogando firme, tranqüilo e construindo meu bankroll. Em pouco tempo, boas novas, consegui juntar 24buyns além dos 8 iniciais. Com certeza o melhor período até então, jogava meu A-Game todos os dias, extraia o máximo quando podia, controlava o pote nas horas certas, apostava por valor sem receio algum, e não tiltava com bad-beats. Tinha total confiança no meu jogo, poderia perder 1buyn ou 2buyns hoje, mas, amanhã os recuperava. As sequências de vitórias compensavam as derrotas, tais derrotas não me abalavam, pouco agitavam meu bankroll. Diante de momentos muito bons, tive outro problema, mais uma vez tive que apanhar para aprender, “Nunca tenha excesso de confiança”, saiba dosar tudo, não seja excessivamente confiante, como não seja em demasia desencorajado.

Resolvi pegar parte do meu bankroll e comprar algumas coisas, pensei que com apenas 6 buyns conseguiria me levantar novamente, quebrei a minha regra. Fato que não seria fácil assim. Sofri tudo novamente, medo de apostar por valor, tinha a impressão de sempre cair à carta do vilão, não tinha confiança alguma, 3bets com medo, joguei pressionado quando deveria impor pressão, reduzi meu A-Game para Z-Game, como consequências, noites em claro, nervosismo e resultados negros.

A única coisa benéfica de tudo isso foi em aprender e reconhecer um erro, eu sabia onde tinha errado, também sabia por que me encontrava naquela situação, bankroll, meu inconsciente pulsava, seja nit em bankroll, se existe um lugar onde ser extremante tigth esse lugar é o seu bankroll.

Enfim, continuo com a minha escalada, quem já subiu a montanha uma vez, sobe duas. Continuo com a mesma tática Judia. Acredito que esse artigo como muitos outros sobre o mesmo tema, não vai ter ajudar muito, porque? Por que só aprendemos quando passamos pela situação, temos que apanhar para aprender, temos que sofrer para aprender.

“Em momentos de grandes avarias o ser humano tende a esquecer seus valores e abandonar seus princípios, mas também são nesses momentos em que um verdadeiro jogador se difere de banais apostadores aventureiros.”

@RafaelTosati – Siga o autor do texto no twitter.