o-grito

O caso é verídico. E com tal veridicidade é também recente. Aconteceu no BSOP de Foz do Iguaçu deste ano de 2013, no arrumado salão do Recanto Park Hotel. Eu carteava na mesa de número 14 ou 15. Já dera as cartas e o jogador no UTG+3 pensava. Nesse momento ouvimos um grito cruciante vindo da mesa de trás. Todos emudeceram. Por um momento o barulho das fichas inexistiu, como se o mundo não houvesse sido criado. Eu não sabia se dava continuidade ao jogo ou se fitava a cena. Como os jogadores tinham os olhos fixos no episódio, cuidei que não faria mal ser mais uma testemunha ocular. Pelo grito, imaginei que um infarto acometera o contemporâneo Munch, quando outra voz gritou, quase na mesma agonia: “Calma!”. Imaginei um ataque epilético. E imaginei que uma bad fora o motor de tudo.

Mas a cena que vi foi a do segundo jogador segurando o primeiro, que, aflito, incrédulo, olhava para a mesa. Na river um fullen batera seu flush formado já no flop. Cuidei, pela consternação, que um socorro médico fosse necessário. Mas, para a felicidade geral da nação poquerística, ele passava bem. Uma bad. Nada mais. Passara.

Meu colega, cuja mão abrira a carta fatal, contou-me depois. Ao tomar a bad, a vítima levara as mãos à cabeça, não acreditando na punhalada que o baralho lhe dava, e, curvando-se para trás, soltara aquele não tormentoso e prolongado que ouvimos no primeiro parágrafo. Ocorreu que, em sua desesperada reação, tropeçou na cadeira em que sentara há pouco (a qual tivera um pé torcido) e, não fosse o seu colega de feltro, teria com violência encontrado o chão. Não bastasse isso, assim que retomou a calma habitual, viu que o tablet que deixara à borda da mesa se espatifara.

Fica o leitor avisado que as bads fazem mal à saúde. Podem causar ataque cardíaco, epilepsia, hematomas, vermelhidão facial em excesso, seguida de queimação e ardência por todo o rosto (a famosa disfunção do nervo simpático torácico), exoftalmia [nome difícil que se dá para a protuberância ocular (melhor?)], depressão, tendência suicida e até divórcio. Podem também matar. Mas depois de tudo isso quem se importa?