Creio, como dealer, executar bem o meu trabalho. Tenho responsabilidade, cumpro pontualmente a escala e, à mesa, carteio com certa destreza e tranquilidade. Nunca, porém, soube-me adivinho. Já li a mão de alguns jogadores. Mas foi tudo.

Neste BSOP – Costa do Sauípe, entretanto, despertaram-me para essa faculdade. Sempre anuncio, antes de bater o flop, o número dos jogadores envolvidos na mão. Digo: “para dois”, “para três”, “para quatro”, “para nove”. Um jogador mais atento notou que 90% das vezes o flop vinha de acordo com o número que eu anunciava; que, assim, era possível se preparar para as futuras jogadas.

Reparei com mais cuidado no que ele dissera e vi que tinha fundamento. Se eu dizia “pra dois”, o flop vinha 2Q2, por exemplo; se “pra três”, o flop era 33K; e assim por diante.

Fiquei espantado. Mas me acalmei e disse de mim para mim que o flop é geralmente para dois ou para três e que uma vez ou outra tais flops apareceriam. O que ocorria, porém, era que o flop vinha, como dito acima, 90% das vezes relacionado com o número de jogadores que eu anunciava previamente.

Passei, então, a não anunciar o número pré-flop. O teste só fez espantar-me inda mais. Pois ele não vinha ligado à quantidade de jogadores envolvidos na mão. Ficou claro que era preciso que eu anunciasse o número de jogadores. Tive vertigens. Pedi para ser substituído.

Lavei o rosto, como manda alguma sabedoria ou ignorância nesses casos, tomei um copo d’água e a natureza fez de meu rosto novo colorido. Retornei à mesa ainda um pouco apreensivo, receoso. Bastaram, porém, as primeiras cinco mãos para que eu restituísse inteiramente à calma. Pois nada do que eu anunciava trazia o flop.

Meia-hora depois, o baque.

Anunciei: “para três” e o flop veio 363. Devo ter dilatado de maneira descomunal os olhos, tamanho o susto [lembro-me agora de ver os rostos dos jogadores me olhando alarmados]. Tentei recuperar a calma. O coração batia forte, célere. Disse: “para dois” e o turn trouxe um 2. Não aguentei. Quando acordei, o torneio havia acabado.